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PACHAMARY

Pachamary é, no poema, a Deusa da Poesia. Força antagônica ao Tempo da violência, voz de resistência, capaz de criar a nova palavra, o novo verbo, que tudo reinventa e alinda.

Pachamary nasceu de Pachamama, ou tal como nos diz Felix Coluccio (1990), de Mamapacha, a mãe terra ou “um dios feminino, que produce, que engendra. A ella se invocaba antes de sembrar, cuando se salía de caza, en algunas enfermedades” (COLUCCIO, 1990, p. 328). Pachamama é a própria alma da América Latina, a grande Mãe, a força telúrica que sempre acena para as riquezas naturais do continente sul-americano e para a necessidade de amarmos nossos povos originais. Assim, não havia como começar de outra maneira a elaborar o nome da Deusa da Poesia.

No entanto, Pachamary também tem o M de “Make Make”, o deus supremo da Ilha de Páscoa, que cria o povo e o alimenta. O A vem Arúru, a deusa da criação da Epopeia de Gilgámesh (epopeia da Mesopotâmia, presente no mundo desde 2.000 a.C.), que cria, a partir da argila, Enkídu. O maior rival de Gilgámesh, entretanto, se torna seu maior amigo. Arúru soube criar o complemento perfeito para Gilgámesh, e isso uniu os dois.

O R vem do deus egípcio Rá, deus sol e também criador, assim descrito:

“Salve Rá, perfeito todos os dias!”. Assim começa um hino egípcio ao deus sol, o Criado não-criado que “atravessa a eternidade” e para quem cada dia não passa de um momento. Todas as noites, Rá navega pelo Mundo Subterrâneo com sua barca noturna e é atacado pela serpente do caos,  Apófis. Se um dia Apófis derrotar Rá, o sol não nascerá mais” (WILKINSON; PHILIP, 2008, p. 228).

 

Por fim, integra-se ao nome o Y de Yemanjá, a orixá afro-brasileira também mãe (Iyá é “mãe”, segundo Gondim, 2009), Grande Mãe habitante do mar, deusa da fertilidade, gentil, amorosa, de seios fartos, capazes de alimentar seus incontáveis filhos.

Pachamary, contudo, também é Mãe Mary, Mãe Maria, aquela que intercede por nós, mortais, a que tem a poderosa força dos milagres que nos redimem e transformam, tal como faz a Poesia quando toca o coração dos povos.

Pachamary, em Sessenta minutos, por tudo o que foi dito, tem a força da criação própria de uma Deusa da Poesia, mas também é a guardiã da Terra, a provedora de alimentos, a geradora de vida, a intercessora entre o humano e o divino. Caberá a ela vencer Paimutic, o Deus do Tempo, cada vez mais preso às violências dos dias e dos seres humanos.

A imagem de Pachamary que uso no livro tem como origem uma foto tirada durante uma caminhada por Havana, Cuba, em fevereiro de 2019. De repente, me deparei com esses azulejos pintados e fotografei. Aproveitei a primeira imagem porque percebi nela o rosto da Deusa da Poesia, a Pachamary do meu canto épico.

 

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Repetindo o que foi dito em relação a Paimutic, Pachamary, como criação literária, absorveu os aspectos míticos, coletados de diferentes fontes, mais afeitos à concepção da Deusa da Poesia no poema. Cada leitor ou cada leitora, certamente, poderá imaginar sua Pachamary com diferentes traços estéticos e de personalidade.

 

Vejam, no final de Sessenta minutos, as referências que consultei para falar um pouco sobre esses mitos.

 

Christina Ramalho

(06/02/2021)

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